quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Cientistas do país querem remunerar voluntários

No Brasil, não se pode pagar alguém para matar monstros em um jogo de computador e ter sua atividade cerebral observada. Foi o que Sidarta Ribeiro, neurocientista da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, descobriu quando, querendo aumentar o número de participantes do seu experimento, enviou seu projeto de remunerar os voluntários a um comitê de ética.

Cientistas que utilizam humanos em suas pesquisas dizem que proibir a remuneração em dinheiro para atrair voluntários acaba atravancando a ciência nacional. Uma diretriz de 1996 do Conselho Nacional de Saúde determinou que a participação em pesquisas seria "voluntária, vedada qualquer forma de remuneração".

A reclamação de cientistas como Ribeiro, que trabalham com humanos, é que se foi longe demais com esse banimento. O ideal, dizem, seria que os comitês avaliassem a situação caso a caso.

Quem tem problemas de saúde facilmente se dispõe a participar da busca pela cura. Achar gente saudável disposta a perder tempo pela ciência, porém, é mais difícil. Pesquisadores reclamam que, por isso, os grupos que estudam ficam enviesados. "Nossos voluntários acabam não sendo muito representativos da população. São pessoas naturalmente mais curiosas, mais disponíveis. Ser for alguém mais pragmático, não se expõe", diz Edson Amaro Junior, neurorradiologista da USP. "Faz diferença ao estudar o cérebro."

Os defensores do veto dizem que, num país em desenvolvimento, oferecer remuneração seria se aproveitar do desespero alheio. Sem outras grandes opções de renda, os voluntários ignorariam riscos por uns trocados. Além disso, poderia existir risco da criação de "voluntários profissionais", algo que também poderia enviesar as amostras. Isso, porém, poderia ser evitado por meio de uma triagem que limite a participação de um mesmo voluntário em vários estudos.

Fonte: Folha.com - Ciência

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