quinta-feira, 1 de março de 2012

Milhares de pessoas possuem implantes de quadril potencialmente tóxicos

Centenas de milhares de pessoas podem ter recebido próteses de quadril com falhas de design que as deixariam expostas eventualmente a metais tóxicos, segundo uma investigação da BBC de Londres e da revista britânica British Medical Journal (BMJ), divulgada na última terça-feira (28).

O risco surge em articulações de metal sobre outro metal, cujas fricções correm o risco de provocar escapes de cobalto e chumbo no corpo, destacou a pesquisa.

O estudo apontou para a DePuy Orthopaedics, subsidiária do conglomerado médico americano Johnson and Johnson, dizendo que a empresa continuou vendendo essas próteses de quadril mesmo depois de saber do perigo.

O risco de contaminação com chumbo e cobalto das próteses é conhecido desde 1975, quando médicos descobriram que o tecido local reage aos íons e átomos carregados a partir destes metais, disseram os cientistas.

"Os íons também podem ser liberados para a corrente sanguínea, espalhando-se para os gânglios linfáticos, o baço, o fígado e os rins antes de serem excretados na urina", noticiou a revista BMJ.

Testes de laboratório também relacionaram o cobalto a uma condição cardíaca conhecida como cardiomiopatia e identificaram os íons de chumbo como um provável cancerígeno, acrescentou.

O British Medical Journal e o informativo da BBC Newsnight noticiaram ter visto um memorando interno da DePuy, datado de 2005.

"Além de induzir a mudanças potenciais na função imunológica, houve preocupação, durante algum tempo, de que as partículas de desgaste pudessem ser cancerígenas", dizia o texto.

Apesar disso, a "DePuy continuou a comercialização das próteses de quadril do tipo metal sobre metal, com material promocional que não refletia as preocupações internas da empresa", denunciou a investigação do BMJ e da BBC.

Em 2010, a DePuy retirou suas próteses de quadril ASR e promoveu outro design, chamado Pinnacle, como "uma alternativa para a maioria dos pacientes".

No entanto, a Pinnacle também teve problemas provocados pela fricção de metal contra metal e no ano seguinte, os investigadores britânicos advertiram o organismo de controle da segurança sanitária nacional do fracasso desde modelo, segundo o informe.

Não houve resposta imediata por parte da DePuy às acusações.

A investigação culpa os reguladores de saúde americanos e europeus por não responderem às preocupações e, mais ainda, por não estabelecerem um controle dos pacientes que receberam as próteses de quadril que poderiam liberar elementos tóxicos.

"Apesar de estes riscos serem conhecidos e bem documentados por décadas, os pacientes não foram informados sobre sua participação no que efetivamente foi uma grande experiência sem controle", disse a editora de pesquisas do BMJ, Deborah Cohen.

"Esta não é a falha desafortunada para detectar os erros de uma empresa desonesta ou a avaria imprevista de um pequeno número de dispositivos. É a incapacidade de prevenir que toda uma classe de próteses de quadril seja utilizada em centenas de milhares de pessoas em todo o mundo", acrescentou.

Esta controvérsia vem a público logo após o escândalo mundial provocado por implantes mamários defeituosos. Acredita-se que mais de 400 mil mulheres em todo o mundo tenham recebido implantes fabricados pela empresa francesa PIP, que fechou em 2010 depois da divulgação da informação de que tinham sido produzidas com silicone industrial.

Fonte: UOL - Ciência e Saúde

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